Leio e releio as mensagens e tento decifrar o que as palavras escondem e podem dizer... Sinto que te perdi, sinto que já vou tarde e sinto que te posso ter magoado mais uma vez, quando já te sentias recuperado...
Tento perceber o que pensas, o que sentiste ao ler as minhas palavras, se decifraste o que elas diziam, se sentiste o que elas contavam... Tenho dúvidas sobre o que devia ou não ter feito, o cósmico universo parecia dar as indicações num sentido mas agora o resultado parece apontar no contrário. A ansiedade regressa... Não sei o que devo ou não fazer, se sigo ou não o que o coração me diz... Se deva insistir ou desistir... O medo, o peso de magoar quem me fez tão bem contrasta como o sonho de construir algo de novo... Fugi. Fugi para onde não pudesse ser encontrada nem questionada sobre o terror em que vivia mas que decidira negar incessantemente.
Fugi, fugi em busca da solidão reconfortante. Fugi para pensar por mim, em mim e ganhar folgo para o não poderia negar para sempre... Fugi porque sentia que nada nem ninguém compreendia a dor por que passava, e fugi porque a falta de amor próprio me corroía e destronava todos os meus objetivos e sonhos de vida. Fugi. Fugi porque era fácil, fugi porque continuar cá estava insuportável. Fugi e encenei todo um novo eu. Fugi e deixei os problemas em suspenso, para que o novo e mais forte eu fosse capaz de os solucionar. Fugi e fugi mesmo quando não pude fugir mais: fugi do mundo, dos meus e alienei-me de mim. Entre voltas e reflexões e fugas, fugi para a raiva e o rancor de quem não consegue viver com o passado que tem. E agora, que fui honesta e tentei não fugir aos meus pensamentos e convicções, acredito que o melhor, para ti, era eu ter continuado fugida e fingida, para que a ferida não tornasse a abrir e eu não te tornasse a magoar... Quando o coração mais bate e se descontrola, e tento voltar-me para a escrita no único desabafo que me resta, as palavras ficam torpedas, atropelam-se e sem nexo ou sentido, acumulam-se no coração.
O tempo foi cruel para comigo, tardou a curar... e agora, exaspero pelo tempo tardar em sanar... Não sei o que esperar da vida, do tempo, mas tento convencer-me e a repetir para mim mesma que com o tempo tudo fará sentido... Assim espero, exaspero... e no turbilhão que vou vivendo e o tempo acumula, sobram palavras que não saem mas que merecem ser ouvidas... assim espero e exaspero por esse dia, um dia... Num momento de loucura, voltei-me para a escrita e escrevi tudo o que te tinha para dizer...
Deixei de me preocupar com o que pode ou não acontecer e decidi agir. Para onde o coração dirigiu, a escrita seguiu e sem controlos, receios ou juízos, finalmente fui capaz de escrever tudo o que sentia. Foi libertador... mas receio que já venha tarde... Foi sincero... mas pode já não ter a resposta desejada... Disse tudo e o que ficou por dizer, pode esperar... O pânico passou, a ansiedade persiste mas fiz o que podia e estava ao meu alcance... fiz o que não podia esperar... Fui honesta, comigo principalmente... Terá a resposta pretendida?... O tempo (ou ele) o dirá... Num discurso desenfreado tento ocupar a cabeça com coisas triviais, que me ocupem o pensamento o mais que puder. São coisas triviais, graças ensaiadas, coisas que já contei, recontei e tornei a contar vezes sem cessar mas que, enquanto as profiro, me descansam o coração.
Tento sorrir, soltar as maiores gargalhadas que do peito conseguir brotar e despertar nos outros o mesmo... Quão bom tudo está, quão bem eu me sinto, quão surpreendente consigo viver e digerir tudo... Mas à noite, quando o silêncio se impõe e as histórias já não têm ouvinte, a mente acorda do seu descanso e o fingimento perece por fim. Quão cansada estou de fingir, de sorrir e discursar o trivial para me distrair e ocupar os demais, para fugir a questões, para esconder as lágrimas e a tristeza... Conto mais uma graçola, nas pausas olho o céu em busca de força divina e retomo a interpretação ensaiada... Volta e meio olho para ti e, num suspiro, murmuro: já vou tarde, não é? tu não ouves, ou finges não escutar, e o meu olhar cai no peito para que não se veja que as lágrimas se apertam nos olhos...
No peito o coração salta, como se quisesse voltar a quem é seu dono, mas este corpo franzino ainda não se deixa perpassar. Vejo te ganhar vida, a construir o futuro e um muro que cresce entre os dois... Como se a memória tivesse receio de se esquecer de tudo o que vivemos, volto a olhar para ti e atentar nos detalhes... e tudo o que mudou, tudo o que ficou igual em ti magoa por eu já não pertencer à história. Torno a olhar, os ciumes incontrolados por toda a indefinição que paira e eu não tenho como derrubar. Olho mais uma vez, é só mais desta vez, e o que pensava já estar ultrapassado refloresce... Como é que vou aguentar desta vez? A mente atraiçoa-me e, em sonhos, transporta-me para a verdade inconsciente que tento negar: eu ainda te amo. E por mais sonhos que tenha, mais me questiono sobre a realidade em que vivo e não quero viver...
Estou cansada, exasperada, de fingir não ter dor, de fingir não sentir, de fingir não desejar quando tu o que mais poderia desejar seria o abraço que tantas vezes me amparou. Sinto-me fraca... a perecer... e se as feridas se tornam a abrir, a dor cronificou e parece não ter consolo. Tive tudo... e por falha minha o tudo perdi... As palavras escasseiam e na garganta queimam por nao poderem ser ouvidas... mas há coisas que já não podem nem devem ser proferidas, por mais que eu queira... Eu devia ir dormir... mas tenho medo de voltar aos sonhos irreais e não querer nunca mais acordar... hoje podia ter sido só mais um de tantos dias dificeis, mas rapidamente se tornou o pior.
o passado continua demasiado decalcado em mim enquanto tu pareces já viver num outro presente... Fingir que nada se passa comigo e fingir a normalidade tornou-se demasiado e quando as forças cessaram, as lágrimas brotaram sem misericórdia. Custa tanto ver que já nada sou para ti e que a vida nos fez tomar rumos distintos... O tempo não parece ter, em nada, mudado o que eu sinto por ti e tão cedo não o fará, percebi isso hoje... Pensei que me estava a reestabelecer finalmente mas pereci, e de coração desfeito ainda me encontro... Custa sentir a culpa de um fracasso que ressoa no meu peito e me faz viver com tanta dor... Custa olhar para ti e não poder dizer tudo o que gostaria de dizer... Custa viver num passado enquanto tu já estás a pensar no futuro... e quando pensava que não tornaria a sentir o ardor das lágrimas a rasgarem-me o rosto, torno a adormecer num mar de lágrimas que ainda resistem.... |