Sempre me contentara em viver de sonhos e ilusões. embalada pelo gotejar da chuva que sobre a minha claraboia cai, o tom ritmado recordava-me a melodia que me havia trauteado. Assim, estendendo o corpo inerte e cansado do fingimento diário a que me obrigava, observava e contava as estrelas, sem recear o castigo divino que poderia enfrentar ao tentar decifrar o mistério celestial. Aos poucos, os olhos pendiam e nos sonhos eu mergulhava, sem alterar a posição do meu corpo flácido e fraco. Não conseguia evitar viver de sonhos porque nos sonhos era feliz e ninguém me julgava ou contestava. Ao nascer do dia, ecos distantes irrompiam para me despertar, e com dificuldade forcava o meu corpo a arrastar-se até ao novo dia. À noite, antes de adormecer, retomava a contagem, e assim resistia apesar de tudo...
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